sexta-feira, 12 de julho de 2013

O despertar dos que não estavam dormindo

A responsabilidde pelos avanços é de todos Juntos.
Foto: Rubens Lunge

O 11 de junho marcou a retomada das mobilizações unitárias da classe trabalhadora. Em Florianópolis estavam lá sindicatos e movimentos que há muito tempo não mobilizavam juntos, na defesa bem objetiva dos direitos dos trabalhadores e de suas organizações. No carro de som falaram centrais sindicais, sindicatos, partidos de esquerda, movimentos e organizações sociais. 

Os da direita não falaram porque não estavam lá. Não participaram da convocação por que nunca o fizeram. Seu principal partido, o poderoso Partido da Imprensa Golpista atuou, como sempre, para criar uma imagem da realidade ao gosto dos interesses da sua classe. Durante toda a semana pudemos ler nos jornais notícias sobre uma suposta Greve Geral que não era objeto da convocação. Se não foi convocada provavelmente não aconteceria e as manchetes poderiam falar do “fracasso da Greve Geral convocada pelos sindicatos” um bom argumento para quem gostaria de ver sindicatos e bandeiras vermelhas bem longe das ruas.

O que se viu ontem foi a retomada de uma prática que estava em desuso. A velha e producente prática da unidade. Foi uma espécie de despertar dos que sempre estiveram acordados, um dia de protesto concentrado na pauta dos trabalhadores, esses que somos a ampla maioria dos cidadãos neste país, mas somos minoria no poder do Estado.

O ponto principal para mudar esta correlação artificial de forças é mudar o sistema eleitoral. Todas as organizações presentes defenderam uma reforma política. Proibir os financiamentos privados de campanha, por exemplo, é dar um salto no combate à corrupção e à sonegação de impostos pelos mais ricos que tem por principal ferramenta o caixa dois das empresas.

Outro salto no mesmo sentido é a utilização de plebiscitos que deveria ser a regra para tudo. Quero votar SIM à revogação da reforma da previdência, ao fim dos leilões do petróleo, à regulação da mídia, ao fim do financiamento privado de campanhas. Quem é contra? Golpe é referendo. O povo tem que decidir, não referendar. Esta deveria ser uma das grandes bandeiras, mas alguns setores confundem a importância de defender esta forma direta de participação popular com “uma manobra da Dilma”. A direita fechou em bloco contra qualquer plebiscito. Curiosamente também vimos algumas faixas contrárias assinadas pelo PSTU.

O 11 de junho foi marcado também por um combate mais agressivo contra o oligopólio da mídia. Em São Paulo manifestantes cercaram a sede da Rede Globo num protesto contra a manipulação da informação que vem se repetindo nos últimos tempos por todo o país. Em Porto Alegre os manifestantes pela Democratização da Comunicação espalharam uma carga de esterco na porta da RBS, para simbolicamente devolver o que eles nos jogam diariamente pela tela. A bandeira por um marco regulatório da comunicação é fundamental e deve ser levantada cada vez mais por todos.

É preciso registrar também a violência da repressão indiscriminada especialmente no Rio de Sérgio Cabral e em São Paulo de Alkmin. Os manifestantes tem sido atacados com força desproporcional. O Rio de Janeiro está se trnaformando num Estado sem leis em que o maior infrator é o aparato de repressão policial. Nada disso passa na mídia. Procure informação na mídia alternativa de confiança e lute junto por um sistema público de mídia capaz de enfrentar as empresas privadas.

Há dez anos, desde a eleição do Lula e a Reforma da Previdência, não se via tantas organizações de trabalhadores superando suas divergências e se empenhando juntas em mobilizar prá valer. Este foi o grande salto do 11 de junho. Precisamos preservar esta unidade e fazer crescer cada vez mais a mobilização pautada clara e objetivamente pelas bandeiras da classe e deixando de lado divergências que podem esperar seu tempo certo. Depois de aprendermos todas as lições deste momento, o que foi certo, o que foi errado e o que faltou fazer, poderemos começar a falar em Greve Geral. A responsabilidade por avançar é de todos JUNTOS.

Caio Teixeira - Jornalista

terça-feira, 2 de julho de 2013

E toda aquela gente na rua?


Vimos nas últimas semanas uma massa de gente nas ruas. Misturadas, politizadas, acríticas, diferentes e uma coisa só. Protestos marcadamente "ordeiros". Influenciados pela mídia que os concebeu como vandalismo e depois como atos de cidadania. Espontaneamente conduzidos, pautados por política e indicativo de alguma coisa que (não) ousamos a determinar. Da pauta consistente ao esvaziamento do pensamento democrático, o movimento sofreu rápidas transformações, tomou corpo e começa a definhar.

Articuladas conscientemente pelo MPL, as manifestações pela redução das tarifas do transporte público tomaram proporções impensadas para atos políticos organizados nos últimos dez anos. Da pauta exclusiva outras apareceram. De toda a ordem, de toda a natureza. Do fascismo ao socialismo. Da mais retrógrada à mais avançada. Infelizmente, nem toda a população está tomada de politização consciente, mas tê-la nas ruas é sinal de que há uma lacuna na disputa de ideias e não temos o direito de deixá-la por fazer.

Penso que nesses últimos anos o Brasil melhorou. Ter mais gente na universidade, ter mais gente na classe média, ter pessoas com mais acesso às coisas é bastante importante. Quando se quer dois, um é a metade e isso é estar em movimento, sair do lugar. Poderia descrever quanto a minha própria vida mudou, comparar por exemplo como uma jovem filha de professora acessa à universidade em 2013 e o conjunto de possibilidade que ela tem em medida das que eu tive em 2002. Tudo isso é excelente, mas a história não é estanque e o que queremos é ainda muito mais. Se quer tem nome, diz a poetiza.

O fato de havermos avançado não pode ser motivo para pensarmos que já chegamos ao fim. Ainda há miséria, ainda há a exploração do homem pelo homem. A história nos impele a caminhar. Cabe a nós conduzi-la para frente e para o avanço. E isso só será possível com ação consciente, constituída a partir do debate de ideias para além do momentâneo.

Se há erro em nossa atuação nos últimos anos, ele se materializa em nossa dificuldade de, em paralelo às imprescindíveis análises conjunturais, imprimirmos claramente nossa concepção. As ações imediatas só se justificam dentro de perspectiva perene, em que pautamos o avanço desse para um outro modelo de sociedade, discussão da qual não podemos nos furtar.
 
O relatório, os comparativos e os debates imediatos são fundamentais para consolidarmos um posicionamento político, mas é no debate de ideias, de concepções, que garantimos o entendimento do porque seguir esse ou aquele caminho. Se tem um sinal que esse povo nas ruas nos dá é que quer saber para onde ir, que procura uma perspectiva que justifique essa ou aquela ação. E cabe a nós, que pretendemos chegar a determinado lugar, mostrar esse caminho. Com humildade, mas muita efervescência.

Nesse ponto, vejo que duas coisas são muito importantes. A primeira é paciência, a hegemonia do pensamento fragmentado está fortemente constituída entre nós. Nossas práticas a refletem, afinal não contemos o mundo, estamos contidos nele. Portanto, nosso pensamento ainda está em defensiva e nós mesmos, na prática, não o reproduzimos, atuamos conforme as características do pensamento hegemônico. Veja como é difícil travar a luta de ideias. Muitas vezes nossas ações nos contradizem.

Convencimento fraterno é a segunda necessidade. Como já disse este texto, não nos basta apresentar relatórios e comparativos da realidade brasileira se queremos ganhar corações e mentes. É preciso politizar, é preciso apresentar o fundo das relações. E são coisas que se fazem transversalmente. Convencimento, da figura e do fundo. Com humildade. Coragem, luta, obstinação caminham com ela. Humildade não é sinônimo de subserviência, é capacidade de diálogo.

Essa gente bonita na rua traz para a cena um pouco de tudo, como a janela aberta por onde entra o ar puro e uma leva grande de insetos. O fascismo e o atraso das palavras devem ser combatidos, mas é preponderante atuar sobre a realidade escancarada, sem rejeitá-la. A mim, as pessoas nas ruas são reflexos de que o povo quer mais. A pergunta que se impõe: o que diremos nós a ele?
 
Clarissa Peixoto - Jornalista

Imagem: Portal de Notícias UOL