quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vlado quer saber


Noticiam que Vlado não poderá afirmar que foi torturado e morto pela ditadura militar brasileira porque lhe negam o direito de saber os nomes dos algozes. O processo de Vlado está no cofre e não pode ser aberto. Alegam que apontar os nomes dos assassinos seria ultrapassar os limites da Lei da Anistia.

Penso que diante do Estado de exceção, tudo pode para a sua derrubada. Diante da violência praticada pelo Estado, a violência civil nada mais é do que um grito de liberdade. A submissão de Vlado foi forçada para que confessasse que era um judeu comunista, e para que entregasse seus amigos.

Tenho um sentimento desse passado recente do meu país. Vivi a ditadura mergulhado entre a disciplina de OSPB (Organização Social e Política Brasileira) no Colégio São José, em Concórdia, o desaparecimento das disciplinas de Filosofia e Sociologia, os poemas e os contos, e a afirmação de que sempre estive fora do lugar. Como o Brasil onde aprendi a viver era silencioso, hoje prefiro o silêncio dos meus porões. Nele construo minhas histórias.

Por que Vlado não pode reclamar esclarecimentos ao Estado brasileiro e tirar do seu atestado de óbito a palavra suicídio? Ele quer saber quem foram os seus torturadores e os motivos pelos quais o penduraram pelo pescoço nas grades de uma janela. O Estado pediu desculpas a Vlado. Indenizou a violência que o jornalista sofreu porque era jornalista e pensava e era crítico. Mas isto não basta. Vlado quer os nomes dos que tomaram o lugar de juiz. E mais: quer saber os nomes dos torturadores, dos coniventes e dos executores.

Nós, também!

Autor: Rubens Lunge - Jornalista

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