sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Floripa onze horas

No mundo em que o indivíduo é tudo, vale aquela máxima de que só entende a situação quem passa por ela. Hoje, a mim, ficou clara a situação coletiva em Florianópolis. Somente hoje, a aula foi até tarde, não ganhei aquela carona e o dinheiro para o táxi era pouco. E eu entrei no último ônibus a sair do terminal, às 23 horas.

Se no congresso de estudantes sempre há um ônibus depois do último, aqui a realidade é outra. A famigerada onda - que ora é objeto do espetáculo na TV, ora é o horror dos patrões do transporte público - traga o direito de ir e vir e cospe o arcaico toque de recolher.

O cenário no terminal central de Florianópolis é deplorável. É a guerra, que carrega menos fúria do que tristeza. A cidade vazia, corrobora para o vácuo entre catracas e cabines. Não bastasse o pequeno número de linhas saindo a esse horário, todos os ônibus seguem juntos, com carros de polícia que garantem sua escolta. E posso dizer: o que vi, o que senti, foi senão, a tristeza, que se materializa no silêncio e no abismo entre nós e os poucos.

São três os desesperos. O do indivíduo que "só sente quando passa", ao perceber esvair-se, por tão pouco, seu direito de ir e vir. E tudo que já era triste agora é ainda mais inseguro, claustrofóbico e lamentável.

Tão grave quanto, é a violência. Que é causa e efeito, num estado em guerra civil cotidiana, lenta, gradativa. Com ferro e fogo, gente a margem desse mesmo sistema do indivíduo, responde ao que a carne tem sofrido.

Não bastasse, infeliz é a resposta pública, que protege o patrimônio privado dos barões do transporte, aceitando diminuir frotas e pouco garantindo a segurança do povo. Se fosse o ser humano mais importante que a propriedade, as pessoas estariam nas ruas, nos ônibus, na vida comum.

Clarissa Peixoto - Jornalista

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