A Comissão da Verdade nomeada pela presidenta Dilma Roussef iniciou a sua carreira esta semana com a divulgação de uma contradição interna, apresentada especialmente pelos oligopólios dos meios de comunicação nas capas dos jornalões e em matérias de TV.
De um lado, um ex-ministro do governo FHC afirmando que todos serão investigados. De outro, a ex-advogada da agora presidenta Dilma quando ela foi presa pelo regime militar, afirmando que quem defendeu a liberdade não pode ser acusado.
A razão é mais funda e antiga do que os panos quentes que alguns querem passar no que seja o papel da Comissão. Querer colocar a resistência à ditadura brasileira no banco dos réus é propor o mesmo para as resistências francesa e italiana quando do domínio fascista e nazista.
Tanto lá como aqui, o Direito foi usurpado e a Justiça colocada a serviço da ditadura. É pacífico a todos que diante da opressão a resistência é um direito, ou não existiria a figura da legítima defesa!
O Estado brasileiro pode recontar a recente ditadura militar. Não pode é forçar a barra e acreditar que a guerrilha do Araguaia e outros atos insurgentes ocorreriam sem a mola propulsora, que foi a usurpação dos Poderes por uma parcela da caserna interessada em estabelecer o pensamento único a ferro, fogo, cadeia, tortura e perseguição.
A Comissão da Verdade, compreende-se, só existe porque o governo brasileiro tem o desejo de reconhecer os erros do Poder e pedir desculpas à Nação. Não poderia fazê-lo, portanto, em nome de quem combateu a sua agressiva e desumana intervenção.
O canal do debate sobre o que vai investigar a Comissão da Verdade, os oligopólios de comunicação, também tem sentido: não foram os empresários deste segmento que legitimaram a ditadura brasileira?
Rubens Lunge - Jornalista e escritor
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